23 março 2006

A ARTE DE ESCREVER




QUANDO SE TEM DOUTORADO

O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus officinarum Linneu, 1758, isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e arestas retilíneas, configurando pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se disponha a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo impressão sensorial equivalente provocada pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto, que ocorre no líquido nutritivo da alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Apis mellifera, Linneu, 1758. No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo do seu eixo em conseqüência da pequena capacidade de deformação que lhe é peculiar


QUANDO SE TEM MESTRADO

A sacarose extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo de purificação e refino, apresentando-se sob a forma de pequenos sólidos tronco-piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente o paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas em um peculiar líquido espesso e nutritivo. Entretanto, não altera suas dimensões lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão axial em conseqüência da aplicação de compressões equivalentes e opostas.


QUANDO SE TEM GRADUAÇÃO

O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando-se em blocos sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem sabor deleitável da secreção alimentar das abelhas; todavia não muda suas proporções quando sujeito à compressão.


QUANDO SE TEM ENSINO MÉDIO

Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do mel, porém não muda de forma quando pressionado.


QUANDO SE TEM ENSINO FUNDAMENTAL

Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível.


QUANDO NÃO SE TEM ESTUDO

Rapadura é doce, mas não é mole, não!!!

15 março 2006

FILOSOFIA: A PROCURA AMOROSA DA VERDADE


Introdução
A palavra "filosofia" aparece na Grécia do séc. VI a.C. nos escritos de Pitágoras, que não querendo definir-se como "sábio" (em grego: SOPHOS) prefere autodeterminar-se "filos-sophos", ou seja, amante do saber, aquele que busca a sabedoria. No século V a.C., o filósofo Heráclito define melhor o conceito original do vocábulo FILOSOFIA, como "a busca da compreensão da realidade total", em todas as suas formas, de maneira sistemática e disciplinada.
O trabalho filosófico é essencialmente teórico. Mas isto não quer dizer que a Filosofia seja puro logos, pura razão, à margem do mundo; muito menos, que seja um corpo de doutrina acabado, com determinado conteúdo fixo. A Filosofia é um processo sempre dinâmico de apreensão das significações históricas da realidade humana. É a procura amorosa da verdade.
Para Sócrates, uma vida que não é examinada não merece ser vivida. Isto nos diz que o filosofar é preocupar-se com os princípios primeiros de nossa existência e da realidade total. O refletir do ser humano sobre estas questões o tornava "filósofo".
A atitude de "filosofar" nasce, primeiramente, a partir de nossa inquietação, que acende em nós o desejo de ver e conhecer. Em segundo lugar, através da admiração, pois é a condição de onde deriva a capacidade de problematizar, compreender e construir. Isso caracteriza a Filosofia não como posse da verdade, mas como busca humilde, constante e dinâmica da essência da vida. Em terceiro lugar, a Filosofia nasce a partir do sentimento de angústia. O ser que somos se revela naquilo que ele é em sua originalidade: nada, abertura, pura possibilidade. Essa abertura à transcendência, coloca o ser humano diante de si mesmo como projeto, tarefa a realizar.
Para Kant, filósofo alemão do século XVIII, "não há filosofia que se possa aprender; só se pode aprender a filosofar". Isto significa que a Filosofia é sobretudo uma atitude, um pensar permanente. É um conhecimento instituinte, pois questiona o saber instituído.
No mundo e fora dele
O pensar filosófico é um pensar a trama dos conhecimentos do cotidiano. Por isso, a Filosofia se encontra no seio da história. No entanto, está, simultaneamente, mergulhada no mundo e fora dele: eis o paradoxo enfrentado pelo filósofo. O filósofo inicia a caminhada a partir dos problemas da existência, mas precisa afastar-se deles, consciente e criticamente, para melhor compreendê-los, retornando, depois, a fim de propiciar subsídios para as mudanças.
Somos filósofos quando nos colocamos a pensar a realidade circundante, de maneira crítica e responsável. Assim, exercendo-nos neste momento do ato de filosofar, percebemos que a Filosofia tem sido, ao longo da história, fator de crítica e ensaio de alternativas para uma vivência humana mais harmônica e equilibrada. Por isso mesmo, tem incomodado a muitos.
A história registra muitas tentativas em destruí-la, desqualificá-la, negá-la. Os tiranos, os mistificadores, os dominadores, e todos os interessados na alienação e mediocridade do povo preferem uma consciência de rebanho, de fácil manipulação, cativa e obediente, a um questionamento sistemático e profundo sobre a realidade. Não foram poucos os filósofos que pagaram com a vida ou a perda da liberdade a ousada postura de filosofar sobre o seu tempo.
Cabe a nós o exercício do filosofar, isto é, apreender de forma significativa a nossa cultura a ler críticamente a realidade e a ter uma prática (práxis) transformadora do mundo. Assim, a Filosofia não é somente interpretação do mundo, mas o projeto de transformação do ser humano em todos os níveis, do política e ética ao psíquico e espiritual.
A necessidade do filosofar
A Filosofia surge quando se põe em jogo o pensar, tornando-se objeto de reflexão (reflectere = "fazer retroceder", "voltar atrás"). Por isso o filósofo é aquele que conhece a história do pensamento, sua evolução, involução, crise, avanços.
A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos ou um sistema fechado em si mesmo. Ela é um modo de pensar, uma atitude, uma postura diante do mundo, descobrindo os significados mais profundos. A Filosofia é uma prática de vida que, de forma refletida, busca pensar os acontecimentos do cotidiano além de sua pura aparência.
Assim sendo, ela pode e deve considerar todo e qualquer objeto. Pode considerar a ciência, a religião, a arte, uma história em quadrinhos ou uma canção popular.
A Filosofia, portanto, parte do que existe, critica, questiona, vislumbra possibilidades, faz-nos entrever outros mundo e outros modos de compreender a vida.

Características do Pensamento Filosófico

A Filosofia é uma atividade humana indispensável, uma vez que a estrutura e a essência da realidade não se manifestam direta e indiretamente. Nesse sentido, a Filosofia é uma reflexão sistemática e crítica que tem como objetivo captar a "coisa em si", a estrutura oculta, o modo de ser existente.
Para que a reflexão seja filosófica, é preciso que haja criticidade. Crítica é a arte de julgar e discernir o valor. Criticar é ter o cuidado de, com rigor, saber estabelecer critérios. Além da criticidade, é preciso radicalidade, ou seja, buscar a raiz, a origem, os fundamentos. Negativamente, em sentido contrário, estamos falando em oposição a uma consciência ingênua, que não é radial, sem raízes.
A reflexão filosófica é como a raiz de uma planta que se lança em busca de maior profundidade. Outra característica do pensamento filosófico é a totalidade, ou seja, considera os problemas entre o de um conjunto de fatos e valores relacionados entre si. A reflexão filosófica contextualiza os problemas.
Portanto, a Filosofia é a crítica da ideologia, enquanto forma ilusória de conhecimento que visa a manutenção de privilégios. Olhando refletidamente a etimologia do vocábulo grego que corresponde à verdade (a-létheia, a-letheúein, "desnudar"), vemos que a verdade é por a nu aquilo que está escondido, e ai reside a vocação do filósofo: o desvelamento do que está encoberto pelos costumes, pelo convencional, pelo poder.