15 março 2006

FILOSOFIA: A PROCURA AMOROSA DA VERDADE


Introdução
A palavra "filosofia" aparece na Grécia do séc. VI a.C. nos escritos de Pitágoras, que não querendo definir-se como "sábio" (em grego: SOPHOS) prefere autodeterminar-se "filos-sophos", ou seja, amante do saber, aquele que busca a sabedoria. No século V a.C., o filósofo Heráclito define melhor o conceito original do vocábulo FILOSOFIA, como "a busca da compreensão da realidade total", em todas as suas formas, de maneira sistemática e disciplinada.
O trabalho filosófico é essencialmente teórico. Mas isto não quer dizer que a Filosofia seja puro logos, pura razão, à margem do mundo; muito menos, que seja um corpo de doutrina acabado, com determinado conteúdo fixo. A Filosofia é um processo sempre dinâmico de apreensão das significações históricas da realidade humana. É a procura amorosa da verdade.
Para Sócrates, uma vida que não é examinada não merece ser vivida. Isto nos diz que o filosofar é preocupar-se com os princípios primeiros de nossa existência e da realidade total. O refletir do ser humano sobre estas questões o tornava "filósofo".
A atitude de "filosofar" nasce, primeiramente, a partir de nossa inquietação, que acende em nós o desejo de ver e conhecer. Em segundo lugar, através da admiração, pois é a condição de onde deriva a capacidade de problematizar, compreender e construir. Isso caracteriza a Filosofia não como posse da verdade, mas como busca humilde, constante e dinâmica da essência da vida. Em terceiro lugar, a Filosofia nasce a partir do sentimento de angústia. O ser que somos se revela naquilo que ele é em sua originalidade: nada, abertura, pura possibilidade. Essa abertura à transcendência, coloca o ser humano diante de si mesmo como projeto, tarefa a realizar.
Para Kant, filósofo alemão do século XVIII, "não há filosofia que se possa aprender; só se pode aprender a filosofar". Isto significa que a Filosofia é sobretudo uma atitude, um pensar permanente. É um conhecimento instituinte, pois questiona o saber instituído.
No mundo e fora dele
O pensar filosófico é um pensar a trama dos conhecimentos do cotidiano. Por isso, a Filosofia se encontra no seio da história. No entanto, está, simultaneamente, mergulhada no mundo e fora dele: eis o paradoxo enfrentado pelo filósofo. O filósofo inicia a caminhada a partir dos problemas da existência, mas precisa afastar-se deles, consciente e criticamente, para melhor compreendê-los, retornando, depois, a fim de propiciar subsídios para as mudanças.
Somos filósofos quando nos colocamos a pensar a realidade circundante, de maneira crítica e responsável. Assim, exercendo-nos neste momento do ato de filosofar, percebemos que a Filosofia tem sido, ao longo da história, fator de crítica e ensaio de alternativas para uma vivência humana mais harmônica e equilibrada. Por isso mesmo, tem incomodado a muitos.
A história registra muitas tentativas em destruí-la, desqualificá-la, negá-la. Os tiranos, os mistificadores, os dominadores, e todos os interessados na alienação e mediocridade do povo preferem uma consciência de rebanho, de fácil manipulação, cativa e obediente, a um questionamento sistemático e profundo sobre a realidade. Não foram poucos os filósofos que pagaram com a vida ou a perda da liberdade a ousada postura de filosofar sobre o seu tempo.
Cabe a nós o exercício do filosofar, isto é, apreender de forma significativa a nossa cultura a ler críticamente a realidade e a ter uma prática (práxis) transformadora do mundo. Assim, a Filosofia não é somente interpretação do mundo, mas o projeto de transformação do ser humano em todos os níveis, do política e ética ao psíquico e espiritual.
A necessidade do filosofar
A Filosofia surge quando se põe em jogo o pensar, tornando-se objeto de reflexão (reflectere = "fazer retroceder", "voltar atrás"). Por isso o filósofo é aquele que conhece a história do pensamento, sua evolução, involução, crise, avanços.
A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos ou um sistema fechado em si mesmo. Ela é um modo de pensar, uma atitude, uma postura diante do mundo, descobrindo os significados mais profundos. A Filosofia é uma prática de vida que, de forma refletida, busca pensar os acontecimentos do cotidiano além de sua pura aparência.
Assim sendo, ela pode e deve considerar todo e qualquer objeto. Pode considerar a ciência, a religião, a arte, uma história em quadrinhos ou uma canção popular.
A Filosofia, portanto, parte do que existe, critica, questiona, vislumbra possibilidades, faz-nos entrever outros mundo e outros modos de compreender a vida.

Características do Pensamento Filosófico

A Filosofia é uma atividade humana indispensável, uma vez que a estrutura e a essência da realidade não se manifestam direta e indiretamente. Nesse sentido, a Filosofia é uma reflexão sistemática e crítica que tem como objetivo captar a "coisa em si", a estrutura oculta, o modo de ser existente.
Para que a reflexão seja filosófica, é preciso que haja criticidade. Crítica é a arte de julgar e discernir o valor. Criticar é ter o cuidado de, com rigor, saber estabelecer critérios. Além da criticidade, é preciso radicalidade, ou seja, buscar a raiz, a origem, os fundamentos. Negativamente, em sentido contrário, estamos falando em oposição a uma consciência ingênua, que não é radial, sem raízes.
A reflexão filosófica é como a raiz de uma planta que se lança em busca de maior profundidade. Outra característica do pensamento filosófico é a totalidade, ou seja, considera os problemas entre o de um conjunto de fatos e valores relacionados entre si. A reflexão filosófica contextualiza os problemas.
Portanto, a Filosofia é a crítica da ideologia, enquanto forma ilusória de conhecimento que visa a manutenção de privilégios. Olhando refletidamente a etimologia do vocábulo grego que corresponde à verdade (a-létheia, a-letheúein, "desnudar"), vemos que a verdade é por a nu aquilo que está escondido, e ai reside a vocação do filósofo: o desvelamento do que está encoberto pelos costumes, pelo convencional, pelo poder.

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